segunda-feira, janeiro 29, 2007

Ontem...

... deu-me para ver a série “Anatomia de Grey”. O curioso é que não acho grande piada á série, mas ontem vi o episódio inteiro. Sentada no sofá da sala, com a Leonor adormecida e embrulhada numa manta ao meu colo, ali estava eu em frente á televisão. As imagens sucediam-se sem que eu prestasse muita atenção ao que se passava no écran, quando de repente algo fez-me despertar. Numa das cenas, um dos personagens, a Dr.ª Christina Chang, que está grávida, está a assistir a uma operação quando começa a sentir-se mal. E aí todos os meus alarmes disparam. Ela sente-se cada vez pior, até que desmaia. A confusão instala-se, com todos preocupados e sem saber o que se passa com ela. O meu coração dispara, as lágrimas enchem os meus olhos. Enquanto isso, na série, ela é levada de urgência para o bloco operatório. É-lhe diagnosticado uma gravidez ectópica. As imagens da cirurgia trazem-me á memória tudo o que eu pensava ter esquecido. De repente aquela mulher sou eu. Sou eu que estou ali, deitada no bloco operatório a lutar pela vida. Sou eu... sou eu... Vejo-me a ser arrastada para aquele lugar frio e vazio de onde saí há tanto tempo atrás. Ela saí do bloco, e no recobro dizem-lhe que teve uma gravidez ectópica e que tiveram de remover a trompa (a esquerda, tal como eu). Tento controlar-me. “Já passou, já passou...” digo a mim própria. Perdida nos meus pensamentos, olho para baixo. A Leonor está acordada. Os seus olhos fixos em mim. Sorri, fecha os olhos, aconchega-se um pouco mais no meu colo e volta a adormecer. Penso no quanto sou abençoada. Abraço a Leonor um pouco mais. Ela é real, ela está aqui. Penso na Beatriz, no meu anjo perdido. Penso que já passaram 2 anos desde que ela partiu. Penso em tudo o que já consegui ultrapassar. Olho para a Leonor e sinto-lhe a respiração tranquila, admiro-lhe as formas perfeitas e sinto-me a explodir de amor. E enquanto o meu coração se acalma, pergunto-me o que se faz quando as emoções nos apanham de surpresa? O que se faz quando sentimentos que pensávamos mortos mostram, de repente, estar vivos? O que se faz quando percebemos que a dor ainda cá mora, que o vazio ainda existe dentro de nós? O que se faz?

2 comentários:

Sandra, eu simplesmente... disse...

....

Beijocas grandes

eu disse...

Oi, linkei seu blog na minha lista de efavoritos, de uma passadinha lá.
Você poderia lincar o meu também no seu blog? Beijos e obrigada!